Na cultura pop temos vários exemplos de exploração do universo. Na TV, Star Trek nos deslumbrava com viagem no tempo, teletransporte, exploração espacial intergaláctica, convivência com extraterrestres e muito mais. No cinema, com filmes como 2001 Uma Odisséia no Espaço levantavam questões sobre a existência da vida e sua forma alienígena super inteligente.
A natureza, no entanto, sempre se revela tão ou mais embasbacante à primeira compreensão de uma descoberta que quebra algum tipo de barreira, como a escala do cosmos. No século 16 o cosmo era o nosso planeta Terra, centro de tudo que havia. Em cima dela, uma abóbada cobria o céu, e em seu véu as estrelas e os planetas estavam conectadas, girando em torno da Terra. Controversa, mas aceita como idéia matemática e não sendo a realidade, De Revolutionibus Orbium Coelestium, de Nicolau Copérnico ainda via o cosmos finito e contendo estrelas fixas, apenas com as posições orbitais dos planetas conhecidos representadas corretamente, mas reconhecendo que seu sistema não apresentava resultados melhores que o modelo ptolomaico por não apresentar evidências experimentais, apenas afirmar ser uma explicação mais elegante que a aceita. Apesar de muito difundido, com mais de 500 cópias (muito para os padrões da época), sua aceitação entre o meio científico não veio de imediato. Johannes Kepler não foi antes de Galileu Galilei que evidência de que o geocentrismo de Ptolomeu não representava o cosmos.
O universo já foi um lugar pequeno, onde nosso pequeno planeta era o centro e luzes no céu circundavam fixas em uma abóboda. Apenas um homem na Terra ousava questionar essa concepção aceita por todos. Onde estava ele na véspera do ano novo de 1600? Na prisão, é claro.
Há um momento em nossas vidas quando nos damos conta de que fazemos parte de algo maior. O século XVI foi a nossa civilização se dando conta disso.
Apenas cinco anos após a publicação de Copérnico, nascia em Nola, Giordano Bruno. Ele foi um filósofo, matemático, astrônomo e ocultista italiano cujas teorias anteciparam a ciência moderna. A mais notável dentre elas foi sua teoria do universo infinito, baseado no livro de Lucrécio (Da Natureza das Coisas); Neste livro, Lucrécio convida o leitor a se imaginar parado à beira do universo e atirasse uma flecha para frente. Se a flecha não parasse, então era óbvio que o universo se estendia além daquilo que pensou ser a beira. Mas se a flecha não parasse e, digamos, acertasse um muro. Então esse muro devia ser a beira do universo. E subindo nesse muro e atirando outra flecha, só há dois resultados possíveis. Ou ela segue pelo espaço para sempre ou bate em algum limite onde você pode subir e atirar outra flecha. De qualquer forma o universo não tem limites. O cosmos deve ser infinito. Essa idéia fez total sentido para Bruno. O deus que ele adorava era infinito, então como a criação dele podia ser algo menor?
A ciência moderna se iniciava há quatro séculos, com a filosofia de Giordano Bruno se antecipando ao telescópio que veio logo a seguir, escancarando as falhas dos modelos aceitos até então. Nos fazendo questionar cada vez mais.Os telescópios foram aumentando e se modernizando. No século XVIII, Willhem Herschel detinha telescópios melhores que os do observatório real de Greenwich. Com seus instrumentos descobriu, entre outros astros, o planeta Urano, enquanto procurava por estrelas de brilho fraco. Desde a antiguidade não era realizada a nova descoberta de um planeta. Ele construiu o maior telescópio de sua época. Demorou 4 anos para construir, juntamente com sua irmã Caroline, o telescópio de 12 metros de distância focal com um espelho de 122 cm de diâmetro. Herschel também descobriu a radiação infravermelha, mapeou milhares de nebulosas e aglomerados e foi pioneiro em diferenciar entre aglomerados distantes e nebulosas difusas.
Hubble
Nos anos 1920, o universo havia crescido em seu tamanho aceito, tendo sido medido por Harlow Shapley e tendo como resultado o valor de 300 mil anos luz de comprimento. Era toda a Via Láctea. Mas este estado estava prestes a mudar, pois Edwin Hubble havia detectado uma estrela variável do tipo cefeida na nebulosa M31 (Andrômeda). Uma técnica para medir distâncias com este tipo de estrela foi utilizada por Hubble, onde este notou que ela estava a 1 milhão de anos luz de distância e apenas poderiam, portanto, estar fora da via láctea. Ele havia descoberto as galáxias. E cada uma delas deveria conter outras bilhões de estrelas. Não parou por aí, porque em 1929 o mesmo Hubble descobriu que as galáxias estavam se afastando, concluindo que o universo estava em expansão, como uma bolha crescente.
Hubble tem sido considerado o precursor da cosmologia moderna e, em sua homenagem o primeiro telescópio espacial fora batizado com seu nome. Não foi a toa que o já citado em outro artigo deste blog (vide http://astronomiaemfoco.blogspot.com/2016/11/telescopio-espacial-hubble-imagens-que.html) nos fez transformar hipóteses em teorias cosmológicas com suas imagens inacreditáveis do universo. O telescópio Hubble sempre será lembrado por sua importância cultural além de ferramenta científica.
Após mais de 2 décadas em construção O maior telescópio espacial do mundo está em fase final de testes, com seu lançamento em órbita previsto para 2018.
Assim como em sua montagem, um mosaico formado por 18 espelhos hexagonais que parecem formar um quebra-cabeças, o telescópio espacial James Webb pode solucionar problemas que os cientistas tentam solucionar há tempos, nos trazendo imagens das primeiras luzes do universo da ordem de 13,5 bilhões de anos luz de distância, as primeiras galáxias em formação, o nascimento de estrelas e sistemas protoplanetários.
Impressão artística (Imagem: http://www.sciencemag.org |
Primeira luz
O Telescópio Espacial James Webb (JWST) será uma poderosa máquina do tempo equipada com visão infravermelha que poderá vislumbrar por 13,5 bilhões de anos para ver as primeiras estrelas e galáxias se formarem da escuridão do início do universo.
Formação de galáxias
A sensibilidade sem precedente do JWST ajudará os astrônomos compararem desde as mais fracas e jovens galáxias até as atuais grande galáxias elípticas e espirais, nos ajudando a entender como as galáxias se formam ao longo de bilhões de anos.
Nascimento de estrelas & Sistemas protoplanetários
JWST será capaz de ver o interior e através de massivas nuvens de poeira que são opacas a observatórios de luz visível, como o Hubble, onde estrelas e sistemas planetários emergem.
Planetas & Origem da vida
O James Webb nos trará mais dados sobre as atmosferas de planetas extra solares, e talvez até encontrar os blocos de construção de vida em outro local no universo. Além de outros sistemas planetários, o telescópio espacial estudará também objetos dentro do nosso próprio sistema solar.
O lançamento é aguardado para outubro de 2018 na Guiana Francesa.